Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
89101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
16
nov 2017
quinta-feira 21h00 Cedro
Osesp 60: Luis Otavio Santos


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Luis Otavio Santos regente e violino


Programação
Sujeita a
Alterações
Georg Friedrich HÄNDEL
Música para os Fogos de Artifício
Johann Sebastian BACH
Ouverture nº 3 para Orquestra em Ré maior, BWV 1068
Arcangelo CORELLI
Concerto Grosso em Sol Menor, Op.6 nº 8 - Fatto per la Notte di Natale
Carl Philipp Emanuel BACH
Sinfonia em Ré maior, H.663
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  QUINTA-FEIRA 16/NOV/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

HÄNDEL

Música Para os Fogos de Artifício

J. B. BACH

Ouverture nº 3 Para Orquestra em Ré Maior, BWV 1068


CORELLI

Concerto Grosso em Sol Menor, Op.6 nº 8 - Fatto per la Notte di Natale

C. P. E. BACH

Sinfonia em Ré Maior, H.663


O concerto desta semana é especialmente dedicado à música dos séculos XVII e XVIII. Em entrevista a Sergio Molina, o violinista e regente Luis Otavio Santos comenta o repertório e sua interpretação.


1 - Como conceber a ideia de uma “interpretação autêntica” da música barroca nas situações em que você precisa trabalhar com instrumentos modernos?


Bem, em primeiro lugar precisamos sempre definir melhor 
o termo “autêntico”: é melhor levarmos a palavra no sentido de algo que é genuíno, por inteiro, e singular. Nesse sentido, toda interpretação excelente é autêntica. Já no sentido “histórico”, fatores incontornáveis são essenciais para que uma interpretação seja correta.


Quando trabalho com uma orquestra “não especializada” (“moderna”), tenho o prazer e privilégio de poder passar uma experiência de décadas com esse repertório. É meu papel trazer uma nova luz à abordagem da orquestra, frequentemente treinada dentro dos cânones de execução do estilo romântico do séc. XIX. Nessa troca de experiências, podemos perfeitamente chegar a um meio-termo, reavaliando andamentos, fraseados e articulações, ornamentação e equilíbrio sonoro, sem necessariamente “imitar” a performance com os instrumentos antigos. Tal imitação, a meu ver, resulta em algo caricato e insatisfatório. Os instrumentos modernos sempre terão uma natureza e característica diferente dos antigos.


É possível fazer música maravilhosa mesmo assim, desde
 que mantendo a integridade e a identidade do grupo. A escolha pelos instrumentos antigos e suas formas de tocar é uma opção artística, um caminho de transformação e mudança de hábitos. E normalmente um caminho sem volta!


2 - O contexto das interpretações autênticas (historicamente informadas) se transformou muitos nos últimos 50 anos. Nesse sentido, como você vê o papel do músico e pesquisador alemão Nikolaus Harnoncourt?


Sim, Harnoncourt (1) junto com Leonhardt (2) são os mestres
 que mudaram a forma de pensar de gerações de músicos, e posteriormente do grande público. Mas não é assim com todos os gigantes? Nesse caso, a forma de expressar, o meio escolhido por eles, foi a música antiga vista sob outra luz, isto é, o viés histórico. Mas acho que se eles não fossem grandes artistas por si só, somente com uma proposta, ou um instrumento diferente, não teriam conseguido um alcance tão grande. O movimento de música antiga sempre terá que agradecer por ter como “papas” dois artistas tão imensos. Eles foram os pilares que sustentaram muitos anos de incerteza e imaturidade, pois nada se impõe de um dia para o outro. Todo esse movimento amadureceu lenta 
e naturalmente, e somente o que foi feito com qualidade, de uma forma “autêntica” (leia-se: honesta), perdurou. É como uma seleção natural. E Harnoncourt esteve lá desde o início. Faz muita falta já, desde sua morte...


3 - Comparando a música dos séculos XVII e XVIII com a do Período Romântico e do Pós-Romântismo, como você entende a figura do instrumentista virtuose?


É bom sempre lembrar que o virtuose é uma invenção do Barroco! Foi nessa época que surgiram os grandes expoentes nos seus instrumentos, compositores-intérpretes que mudaram o gosto musical e a técnica dos instrumentos da noite para o dia. Mas sua atuação não era desconectada do habitat, como podemos imaginar com o virtuose romântico — sobrenatural, superdotado e... solitário. No Barroco, ser virtuose era uma virtude, literalmente. O virtuose era um exemplo e um mestre-artesão do ofício musical. Aqui estão Frescobaldi, Couperin, Buxtehude, Corelli, Vivaldi, [o oboísta] Platti e, acima de todos, Bach! Toda boa música desse período é produto do artesanato musical dos virtuoses. Vendo dessa maneira, os virtuoses barrocos eram mais completos do que os românticos e pós-românticos.


4 - Qual a diferença entre apenas reger a música do século XVIII e participar como violinista e regente simultaneamente?


Reger essa música quer dizer executá-la. É uma música moldada dentro da retórica, os músicos são oradores, eles detêm o texto musical. Por isso, aliás, historicamente, mesmo em formações muito grandes, a liderança do grupo era feita pelo Konzertmeister (spalla), ou o cravista ou organista, que desempenhava o baixo contínuo.


Portanto, sempre que possível, prefiro tocar também. Fiz isso até com sinfonias de Beethoven, nos Festivais de Juiz de Fora. Agora, se percebo que minha liderança ao violino pode
 ser insuficiente (por inúmeras razões), tenho desenvolvido uma “técnica” de regência que procura manter o gesto musical, o texto musical, em primeiro lugar. É totalmente não convencional, mas não sou o único. Praticamente todos os regentes de música antiga perseguem esse ideal, cada um a sua maneira.


5 - Que nuances você destaca na interpretação de cada compositor - Händel, Corelli, Johann Sebastian Bach e Carl Philipp Emanuel Bach, nas peças que estarão no repertório dos concertos desta semana?


Temos três panoramas. Com Corelli, o estilo italiano na sua forma mais canônica e pura: os grandes contrastes sonoros
da forma concerto grosso, o império das cordas, com o instrumentalismo idiomático unido ao ideal de cantabile. Com Händel e Johann Sebastian Bach, temos os “gostos reunidos” (francês e italiano) sintetizados na forma suíte: ouvertures virtuosísticas unidas ao rigor das danças de corte. Há um abismo na profundidade musical entre os dois, mas... veja bem, Händel compôs os Fogos de Artifício sob encomenda, para um evento social, e Bach compôs antes de mais nada “soli Deo gloria”. (3) Já Carl Philipp Emanuel Bach é o grande arauto do estilo novo, de uma nova era: o chamado estilo Sturm und Drang [“Tempestade e Ímpeto”] é muito nítido aqui, com seus arroubos, surpresas e momentos de intenso sentimentalismo.


1. Nikolaus Harnoncourt [1929-2016], regente austríaco (nascido em Berlim). Outras informações sobre a interpretação da música dessa época em HARNONCOURT, Nikolaus. O Discurso dos Sons: Caminhos Para uma Nova Compreensão Musical. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
2. Gustav Leonhardt [1928-2012], musicólogo, regente e tecladista holandês.
3. Glória somente a Deus.