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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
23
set 2017
sábado 16h30 Ipê
Osesp 60: Valentina Peleggi e Leonardo Hilsdorf


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Valentina Peleggi regente
Leonardo Hilsdorf piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Edino KRIEGER
Fantasia Concertante para Piano e Pequena Orquestra
Wolfgang A. MOZART
Concerto nº 15 para Piano em Si bemol maior, KV 450
Joseph HAYDN
Sinfonia nº 82 em Dó Maior - O Urso
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SÁBADO 23/SET/2017 16h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

HAYDN

Sinfonia nº 82 em Dó Maior - O Urso /HAYDN EM FOCO
KRIEGER

Fantasia Concertante Para Piano e Pequena Orquestra /ENCOMENDA OSESP, ESTREIA MUNDIAL
MOZART

Concerto nº 15 Para Piano em Si Bemol Maior, KV 450


Foi no período Clássico, especialmente nas últimas 
três décadas do século XVIII, que a música de concerto definitivamente se emancipou das formas com as quais as narrativas verbais se estruturavam (estrofe, refrão etc.), encontrando lógicas internas ao próprio discurso dos sons.
 E isso se deu, entre outras coisas, por uma mudança na maneira de criar um tema principal: a partir de então, para
 a construção de um tema, os compositores passaram a procurar fragmentos melódicos concisos, que possuíssem também ritmos marcantes e se apoiassem em uma sequência de acordes cuidadosamente edificada. O passo seguinte era o de adequar esse tema principal a um “plano de viagem” (a forma-sonata), uma espécie de mapa que previa uma exposição afirmativa, a contraposição por um tema antagonista, transformações e recapitulações.


No programa desta semana, além de experimentar uma maior aproximação com o ambiente do classicismo de Haydn e Mozart, será possível verificar como tal “plano de viagem”, ainda que por oposição, pode se espraiar para os dias de hoje, produzindo ressonâncias em uma peça especialmente escrita para a Osesp pelo compositor brasileiro Edino Krieger, para dialogar com tais expedientes composicionais.


A Sinfonia nº 82 de Joseph Haydn, que abre o programa, integra um grupo de sinfonias compostas no final da década de 1780 por encomenda do Conde d’Ogny, que ficaram conhecidas como as Sinfonias de Paris. Em seu estudo Formas de Sonata, Charles Rosen cita um artigo publicado à época na revista Mercure de France, que chamava a atenção para uma característica comum desse grupo de sinfonias, que é 
de se organizar a partir de apenas um tema principal (sem 
a contraposição de temas “antagonistas”): “Este grande gênio, que sabe como traçar desenvolvimentos muito ricos
 e variados a partir de um tema único, muito se diferencia desses estéreis compositores que passam continuamente de uma ideia a outra [...]”.


No caso da Sinfonia nº 82, tal discussão faz mais sentido
 se tomarmos como exemplo o último movimento, o “Vivace”. Embora Rosen contra-argumente apontando haver nesse grupo de sinfonias, além do tema principal, outros elementos temáticos engenhosamente inseridos em passagens intermediárias, a utilização de um mesmo tema nos pontos-chave da forma-sonata confere à peça uma unidade inconteste e permite que os contrastes se desloquem para outro plano. Nesse sentido, uma vez que o tema principal é predominantemente o mesmo, percebe-se muito mais as alternâncias de colorido orquestral e ambientação harmônica como agentes transformadores. Isso pode ser verificado, por exemplo, logo aos trinta segundos desse movimento final, quando o tema em Dó Maior, que inicialmente havia sido apresentado nos primeiros violinos, reaparece idêntico em Sol, reorquestrado na flauta, nos fagotes e nos segundos violinos. O codinome “O Urso”, que foi mais tarde atribuído 
à sinfonia, advém justamente desses desenhos ritmados do “Vivace”, que supostamente aludiam a uma dança de ursos.


A segunda peça do programa é do catarinense Edino Krieger, um dos principais compositores de sua geração desde seu precoce envolvimento, em 1944, aos dezesseis anos, com o grupo Música Viva, organizado em torno da figura do educador alemão, aqui radicado, Hans-Joachim Koellreutter. No texto a seguir, escrito especialmente para este programa, Krieger explica a relação da sua Fantasia Concertante Para Piano e Pequena Orquestra com o universo do classicismo, e como se comportam neste caso os temas por ele criados:


“A Fantasia Concertante Para Piano e Orquestra foi composta em 2016, atendendo ao convite da Osesp para criar uma música de curta duração para ser executada antes do Concerto de Mozart, na temporada de 2017. A
 ideia de uma Fantasia Concertante [e não de uma sinfonia ou de um concerto] foi utilizar uma forma livre, que contrastasse com a estrutura formal clássica do Concerto de Mozart. A peça se desenvolve em duas grandes seções,
a primeira formada de um motivo seco e forte de toda a orquestra e um desenho rápido ascendente do piano. Esses dois elementos se alternam num diálogo entre solista e orquestra. Uma segunda seção é introduzida, num tempo mais contido de marcha-rancho, que imprime à peça uma identidade cultural brasileira. As duas seções se repetem e conduzem a uma coda conclusiva. A instrumentação utiliza o mesmo modelo clássico do Concerto de Mozart.”


Diferentemente do que ocorre com o Concerto nº 17 de Mozart, - interpretado pela Osesp e pelo pianista alemão Andreas Staier no final de abril - , o Concerto nº 15, reserva um papel de destaque para as madeiras (oboés, fagotes e trompas) na condução da narrativa. São elas que expõem o primeiro tema, uma sequência cromática de quatro notas, que será recuperado pelo piano logo após sua primeira entrada, por volta de dois minutos de peça.


A composição de concertos para piano e orquestra foi uma das principais ocupações de Mozart em seus primeiros anos em Viena. Escrito para que ele mesmo fosse o intérprete na estreia em março de 1784, o Concerto nº 15 é um dos mais evidentes exemplos de um justo equilíbrio que o compositor perseguia, conciliando sequências virtuosísticas ao piano e passagens transparentes e de fácil assimilação na orquestra.


Aqui, mais uma vez, a forma-sonata, clara e balanceada, organiza o discurso musical. Música de sons. Sem palavras.


SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,
coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)
e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.

 


Leia sobre Joseph Haydn no ensaio "Haydn, um compositor solar", de Laura Rónai aqui.