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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
05
nov 2017
domingo 16h00 Coro da Osesp
Coro da Osesp e Marcos Thadeu


Marcos Thadeu regente
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Carlos Alberto PINTO FONSECA
Xirê Ogum
É a ti Flor do Céu
Ponto de Oxum
Cântico de Iemanjá
Jubiabá
Missa Afro-Brasileira: Dona Nobis Pacem
Paulo ZUBEN
Jaguanhenhém [Encomenda]
Spirituals Anônimos
Swing low, Sweet Chariot [Arranjo de Robert Shaw]
The Battle of Jericho [Arranjo de Moses Hogan]
Set down, Servant [Arranjo de Robert Shaw]
Elijah Rock [Arranjo de Moses Hogan]
Dry Bones [Arranjo de Mark Hayes]
George GERSHWIN
Porgy and Bess: Seleção Coral [Arranjo de Clay Warnick]
INGRESSOS
  R$ 48,00
  DOMINGO 05/NOV/2017 16h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

ZUBEN
Jaguanhenhém [texto de Mauricio Ayer]

 

Esta obra coral foi composta em memória e homenagem aos 50 anos da morte de João Guimarães Rosa, mestre maior da literatura brasileira. Não foi nossa pretensão musicar sua prosa, antes quisemos capturar algo da energia de seu trato com a palavra e usá-lo como material de música. Buscamos um encontro entre o cultural e o selvagem, entre o inteligível e o instintivo, o construir-destruindo e destruir-construindo outra linguagem. A música tornou-se instrumento de leitura, uma lupa temporal para ouviver a metamorfose da palavra. Metamorfose: processo chave do conto “Meu tio o Iauaretê”, publicado em 1961 em um suplemento literário e depois no livro póstumo Estas Estórias (1967).


O conto narra um encontro singular em um rancho no meio da mata. De um lado, o morador, um caboclo que retoma sua origem índia pelo veio materno e vive, portanto, um devir-índio, mas o faz por meio de um devir-onça, bicho que descobre ser “seu parente”. De onceiro (matador de onças) torna-se um membro da comunidade de onças, com quem compartilha a carne da caça, inclusive humana. O devir-onça é, também, um resgate antropófago. De outro lado, há o visitante, um homem branco que chega inesperadamente – desgarrado de seu grupo, febril, em um cavalo ruim –, com intenções que a princípio não são claras. Armado de seu revólver, terminará por balear seu anfitrião para não virar lanche de onça.


O veículo de toda a narrativa é a fala do homem-onça, ela também um tecido em transformação de português, tupi e invenções que refratam a língua, como se esta atravessasse um prisma que permitisse perceber em separado os seus múltiplos coloridos constitutivos. Isso poderia ser identificado com um “jaguanhenhém”, neologismo de cor tupi que junta “jaguar” (onça) com “nhenhém” (modificado a partir de “neheng”, ou “falar”), com o resultante significado: “fala de onça” ou “linguagem de onça”. Como um Minotauro brasílico, essa fera (meio bicho meio gente) que devora humanos terá que ser revelada em seu labirinto de linguagem para então ser alvejada por um visitante “civilizado”.


Com base neste roteiro que foi lido no conto, a obra musical faz conviver os vários nomes de onça – pinima, canguçu, jaguar, iauaretê, onça pintada; pixuna, onça preta; coema piranga, suassurana, puma, onça parda –, os sobrepõe e os estira no tempo, até que um dos nomes prevaleça e seja plenamente pronunciado, em acordo por todo o coro, como uma revelação.

 

O arco geral da transformação da narrativa da peça pode ser desenhado dessa maneira: há um ronrom familiar, íntimo, que é perturbado pela visita do “cipriuara” (“homem que vem me visitar”), e se transforma por espasmos até explodir em um rugido – a externalidade máxima da fera.


A música realiza as intermitências desse arco por meio de um pulsar sobre o polo de mi bemol, nota que retorna periodicamente entre eventos sonoros de densidade harmônica e atividade dinâmica cada vez mais intensas. Esses acontecimentos se distribuem em um coro subdividido em três madrigais, dispostos no palco à esquerda, ao centro e à direita e numerados 1, 2 e 3, respectivamente. Com isso, a música também é como que refratada, espalhando-se no espaço cênico para reconstituir, globalmente, um espaço total dinâmico.


Gostaríamos de agradecer a Arthur Nestrovski e à Fundação Osesp pela encomenda.

 

PAULO ZUBEN