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ENSAIOS
Confluência de Mundos Sonoros Distantes
Autor:Jorge Villavicencio Grossmann
07/abr/2023
Jorge Villavicencio Grossmann, Compositor Visitante.

O Concerto para Violoncelo apresenta desafios do ponto de vista instrumental e formal que são muito diferentes daqueles de minhas peças anteriores — Mosoq, um miniconcerto para violino, cordas e eletrônica, de 2013, o Concerto para Piano, de 2014, e o Concerto para Piano e Cordas, de 2002. O papel designado à orquestra favorece, na maior parte, a diafaneidade da textura orquestral, que complementa a parte do solista. A peça revela também meu interesse pelo tratamento da textura dentro do conceito de forma dinâmica, que se baseia na percepção da forma como um fluxo contínuo de eventos musicais, ou seja, uma narrativa fluida ao invés de uma sucessão de blocos ou partes bem definidas, como por exemplo na forma ternária ABA. O intuito de tal abordagem formal é oferecer ao ouvinte não só (ou necessariamente) a percepção arquitetônica das seções da obra, mas expô-lo a um discurso musical fluido, onde qualidades como atividade rítmica, densidade harmônica e trajetória dinâmica e de registro interagem para criar uma curva formal e dramática para a composição.

 

O Concerto para Violoncelo foi escrito especialmente para o violoncelista Luiz Fernando Venturelli. Trata-se de uma obra em três movimentos, em que o segundo movimento, um “Scherzo”, no qual utilizo a técnica de pizzicatos especialmente desenvolvida por Luiz Fernando, graças a sua experiência como guitarrista, é um interlúdio fugaz entre o meditativo primeiro movimento e o multifacetado terceiro movimento. O uso, na orquestra, de instrumentos cerâmicos da cultura pré-Inca de Chimu representa um interesse recente na minha pesquisa artística, que mira o encontro de mundos sonoros distantes, o pré-colombiano e o europeu. Uma coleção de vasilhas assobiadoras que produzem som quando o ar é impulsionado para fora delas pela água que contêm desempenha um papel importante na coloração orquestral no terceiro movimento.

 

Encomenda da Osesp, esta é minha quarta obra orquestral com solista, e sua estreia mundial será nesta Temporada 2023 na Sala São Paulo.

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Sobre o compositor

 

Jorge Villavicencio Grossmann nasceu em 1973, em Lima, no Peru, e é filho de mãe brasileira e pai peruano. Em 1978, iniciou-se na música com aulas de piano e flauta doce. Começou a estudar violino em 1985, com Luis Fiestas e Véronique Daverio. Em 1989, mudou-se para o Brasil, onde passou a ter aulas de violino com Alberto Jaffé e, de composição e teoria da música, com Paulo Maron. Um ano depois, ingressou na Faculdade Santa Marcelina e estudou violino com Ayrton Pinto, formando-se bacharel no instrumento. Em 1998, mudou-se para os EUA, onde participou do programa de mestrado em composição na Florida International University, como aluno de Orlando García e Fredrick Kaufmann. Em 2000, mudou-se para Boston, iniciando os estudos de doutorado em composição com John Harbison e Lukas Foss, formando-se em 2004, ano em que também foi contratado como professor da Universidade de Nevada. Nesse meio-tempo, ganhou o prêmio Charles Ives da Academia Americana de Artes e Letras, e a Bolsa de Artes da Associação Vitae de São Paulo, em 2003. Escreveu a primeira obra do ciclo Siray I em 2005, obra interpretada em mais de 20 países e pela qual recebeu diversos prêmios. Com a peça Pasiphaë, recebeu o prêmio Jacob Druckman do Festival de Aspen, em 2007. Escreveu o Quarteto de Cordas n° 3 — Música Fúnebre e Noturna em 2009, em memória de Lukas Foss e Ayrton Pinto (ambos falecidos naquele ano). A obra, gravada pelo JACK Quartet para o selo New Focus, recebeu o Borromeo String Quartet Award da Aaron Copland House. Em 2010, foi contratado pelo Ithaca College como professor, recebendo também a bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation.

 

Em 2012, a obra Anemoi, escrita para orquestra, estreou em Kiev, com a Orquestra Nacional da Ucrânia. Um ano depois, o compositor recebeu uma encomenda da Fromm Foundation da Universidade de Harvard. A Orquestra Sinfônica Nacional do Peru estreou, em 2014, seu Concerto para Piano, no Grande Teatro Nacional de Lima. Em 2015, foi nomeado diretor do programa de composição da VIPA, Valencia International Performance Academy and Festival, na Espanha. Em 2016, recebeu uma bolsa da Fulbright para estudos e os trabalhos de criação na Espanha, e estreou na Osesp, sob regência de Marin Alsop, Gravitações, uma encomenda da própria Osesp. Em 2018, o conjunto Klangforum Wien estreou Siray III, em Nicósia, no Chipre. Em 2021, recebeu novamente uma bolsa da Fulbright para atuar como professor visitante na Universidade de Santa Catarina e compor o Concerto para Violão.


Um pouco da obra e do trabalho do compositor, violinista e regente pode ser conferido em: www.shadowofthevoices.com/ e na discografia recomendada.

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GRAVAÇÕES RECOMENDADAS

 

From Afar

Talea Ensemble

Mivos Quartet

James Baker regente

Kyle Armbrust viola

Anna D’Errico piano

Joshua Oxford eletrônica

Kairos, 2020

 

JACK Quartet: Áltavoz Composers

JACK Quartet

New Focus Recordings, 2014